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“No demais, irmãos meus, fortalecei-vos no Senhor e na força do seu poder. Revesti-vos de toda armadura de Deus, para que possais estar firmes contra as astutas ciladas do diabo” (Efésios 6:10-11).

PREFÁCIO

“O meu povo foi destruído, por falta de conhecimento” (Oséias 4:6).

Vinte e um anos atrás, um pastor missionário do Brasil visitou a Gráfica Pyramid que pertencia aos meus pais em Kissimmee, Flórida. Deus usou esse evento casual—uma simples encomenda de cartão de visitas—para nos libertar de gerações de práticas ocultas. Este é um resumo do que minha familia e eu passamos durante décadas de enganos por Satanás através da prática do espiritismo.

Meus pais, irmã, e eu nascemos no Brasil. Nossos antepassados Europeus, trouxeram com eles ao Novo Mundo, crenças e rituais ocultos praticado durante gerações antes deles. Eu me tornei uma médium espírita da quarta geração no Brasil.

Os avós paternos do meu pai vieram da Itália. Sua avó Siciliana era uma curandeira que usava poções, ervas e encantamentos para curar doenças, bem como danos espirituais causados por maldições e “mau-olhado”. O pai do meu pai, tinha fortes habilidades psíquicas. Quando menino, ele alertou seus pais sobre uma raposa que tinha matado todos porquinhos do chiqueiro. Mas quando seus pais foram verificar, os porquinhos mamavam intactos ao lado da porca. Mais tarde, a cena repetiu, no entanto, desta vez, a familia testemunhou a raposa em fuga com um porquinho pendurado em sua mandíbula, depois de ter matado toda a ninhada como meu avô previu. Uma das visões do meu avô até salvou a vida de um homem que desapareceu depois que seu cavalo voltou para casa sózinho. Ele descreveu com precisão a área onde o homem ficou ferido depois que uma cascavel assustou seu cavalo.

Os antepassados de minha mãe, imigraram para o Brasil da Espanha. Todos praticavam espiritismo. Minha bisavó, avó e avô maternos eram médiuns. Familiares, vizinhos e amigos traziam seus filhos doentes á casa deles para serem benzidos, ou para receber passes de energia espiritual. As curas incluiam problemas espirituais, febre, mau-olhado, e até mesmos vermes intestinais. Chás, banho de defeza, defumação, e velas acesas em homenagem a guias espirituais e anjos da guarda era recomendado para ajudar nas curas.

O Evangelho Segundo o Espiritismo, por Allan Kardec era nossa “biblia”. Este educador Francês nos anos 1800, codificou o espiritismo. Uma de suas missões foi esclarecer os ensinamentos de Jesus “incorretamente” traduzidos na Biblia. Nós acreditávamos em reencarnação e vivíamos em comunhão com espíritos em relação ao mundo corpóreo através da mantra de Kardec: “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a lei.”

Nós diziamos que éramos Católicos, mas apenas para fins tradicionais: Casamentos, batismo das crianças, e missas de sétimo dia para os mortos. Na realidade, nós rejeitávamos a religião tradicional, e não acreditávamos no céu ou inferno. Crentes que iam de porta-a-porta para evangelizar não eram bem vindos. Quando eles paravam no nosso portão batendo palmas, anunciando sua presença, eram desprezados.

Quando voltei para viver no Brasil com quatorze anos, fui doutrinada em um templo de Umbanda onde comecei meu desenvolvimento médium. Até a idade de 38 anos quando conheci o pastor Brasileiro nos Estados Unidos, nunca tinha lido a Biblia antes, muito menos ouvido falar sobre a Salvação eterna em Jesus Cristo. Nós não éramos malignos. Nós realmente acreditávamos que comunicação com os espiritos vinha de Deus. E nossas habilidades psíquicas, um dom Dele.

PARTE I

“Entre ti se não se achará quem faça passar pelo fogo o seu filho ou a sua filha, nem adivinhador, nem prognosticador, nem agoureiro, nem feiticeiro; Nem encantador, nem quem consulte um espirito adivinhador, nem mágico, nem quem consulte os mortos” (Deutoronômio 18:10-11).

          Tenho cinco anos de idade. Mais uma vez sou despertada de um sono inocente. O tipo de sono que só as crianças experimentam. Com olhos arregalados, olho para um mar de escuridão profunda. No vazio, alguem ou algo está pairando perto do nosso sofá-cama. Observando furiosamente. O medo arranha meu coração. Um calafrio percorre todo meu corpo. Com muito medo de piscar, e ao mesmo tempo aterrorizada para ver o que está por trás da escuridão, eu tento gritar. Sómente gemidos baixos escapam dos meus labios. O ar trava na minha garganta. Meus pulmões queimam por oxigênio. Estou morrendo? Minhas cordas vocais e musculos completamente paralizados. O único movimento possível é através das minhas palpebras: Piscando, apertando, arregalando.

Está mais perto agora. Ameaçador. Cruel. Hostil. Uma malignidade palpável enche a atmosféra. Enquanto eu luto com cadeias invisíveis sufocando-me, minha irmã se agita no sono. Escuto a respiração suave dela, e o pulsar de sangue batendo contra meus tímpanos. Finalmente, me liberto. Um grito quebra o silêncio. Levo um segundo para perceber que quem grita sou eu. Tremendo, sento e chamo minha mãe aos gritos. E através da penumbra vejo silhuetas na sala: Uma cadeira, a televisão com antena em cima, e o console de vitrola do papai, onde uma figura sombria recua, e atravessa a parede.

          Minha irmã acorda num pulo. Ela abraça meu corpo trêmulo. Sinto sua voz morna contra meu rosto, “Não chora…mamãe já vem”.
Uma porta abre, e fecha com um clique. A luz do corredor acende. Os chinelos de minha mãe batem no chão com passos apressados. Ela entra na sala me quietando. Só depois de muitos beijos e abraços, finalmente me acalmo. “Vou buscar um copo de água com açucar. E amanhã voce vai ver. Vovó vai fazer esses vultos irem embora, tá bom?”

Vultos são aparições espirituais, ou encostos. No espiritismo são descritos como espiritos desencarnados, ou espiritos errantes. Minha avó dizia mesmo que os espiritos me assustavam, eles não queriam me fazer mal. Como eu era vidente, então era apenas um instrumento usado pelos espiritos para comunicação. Quando amadurecer fisicamente, emocionalmente e mentalmente, eu estaria pronta para me desenvolver como uma médium. Essa era minha missão aqui na terra.

          Hoje, vovó me pegou no colo e me benzeu. Com o polegar ela fez cruzes sobre minha cabeça, testa, costas e peito enquanto dizia palavras que eu não entendia. Estalava os dedos por cima da minha cabeça curvada, minha franja como uma fina cortina cobria meus olhos. Eu olho para o chão—cacos vermelhos de cerâmica no piso colocados peça-a- peça por meu pai. Embaixo da mesa um padrão de mosaicos de cacos coloridos em formato de uma estrela de cinco pontas.
Vovó boceja. Lágrimas escorrem manchando o pó de arroz que ela passa no rosto todas as manhãs. “Pronto. Está tudo bem”, sorrindo ela acaricia meus cabelos com as duas mãos, “agora voce só precisa um raminho de arruda atrás da orelha para te proteger.”

PARTE II

“Quando, pois, vos disserem: Consultai os que têm espíritos familiares e os adivinhos, que chilreiam e murmuram: Porventura não consultará o povo a seu Deus? A favor dos vivos consultar-se-á aos mortos? (Isaías 8:19).

A medida que eu cresço, eu continuo a ver vultos, ou sinto presenças ameaçadoras me seguindo por toda parte. Dia e noite. Na escola ou quando brincando. Parece que os rituais fazem pouco ou nenhum impacto por que os espiritos constantemente me torturam. Nunca posso estar sózinha. Minha irmã está cansada de me acompanhar sempre que eu tenho que entrar em um quarto, inclusive no banheiro, tenho vergonha de admitir. Quando não tenho outra alternativa, e entro sózinha em algum lugar, marcas roxas cobrindo meus braços e pernas são testemunho da reação de “luta ou fuga”. Não é possivel lutar contra o invisível. Fugindo das ameaças, eu bato contra paredes e móveis, tropeço e caio quando as forças invisíveis parecem me empurrar e me jogar para todos lados.

Durante as férias do meu segundo ano escolar, minha mãe me levou para passar uma semana com sua avó e tia paterna. Eu odiava ir lá, mas nunca disse isso aos meus pais. A casa estava sempre cheia de sombras, mesmo em dias ensolarados. Mas o que mais me assustava nesse lugar eram os dois ferozes cães Pastor Alemão acorrentados atrás de uma cerca no fundo do quintal.

          Depois do jantar, fico parada de trás da porta de rêde na cozinha observando minha tia-avó dando restos de comida para os cachorros. Está caindo a tarde, e o céu se torna roxeado, projetando sombras lilases sobre o quintal. Pássaros picam cascas de mamão descartadas no grama ao lado do jardim. Os cachorros puxam com força as suas correntes, seus dentes pontudos expostos, e saliva escorrendo sobre a comida sendo colocada em suas tigelas.

          Minha atenção torna para o ranger do portão na frente da casa.
O medo apodera de mim quando vejo um homem de meia idade entrar no quintal. Usando um terno preto com gravata, seus sapatos engraxados batem no corredor de ladrilhos. A fumaça de seu cigarro ondula acima de seus cabelos escuros e lustroso.

          Como foi que ele abriu o portão trancado? Porque os cães não latem? Ele está rápidamente se aproximando do corpo curvado da minha tia-avó. Sem perceber o intruso, ela acaricia a cabeça dos cães enquanto eles devoram a comida.
Quando tento gritar para avisá-la, fico paralisada. É o mesmo tipo de paralisia que acontece quando desperto do sono. Me esforço para gritar, minha boca está aberta, mas minha voz não sai. Com os braços estendidos, o homem abaixa para abraçá-la. Mas antes de tocár nela, ele desaparece em um sopro de fumaça.

Na manhã seguinte, minha bisavó me levou para ver uma amiga que era médium. Ela queria saber se o homem que eu vi era seu marido, meu falecido bisavô que veio visitar sua filha. O guia espiritual da médium confirmou que era seu marido, e pediu para minha avó dizer a minha mãe que me levasse a um centro espírita de Mesa Branca em nossa vizinhança para aconselhamento em meu desenvolvimento espiritual.
Nas reuniões de Mesa Branca, os médiuns sentam em volta da mesa coberta com uma toalha de linho branco, um vaso com rosas brancas, uma jarra de água e alguns copos são colocados no centro da mesa. Os “pacientes” sentam em cadeiras encostadas na parede. O Centro está sempre cheio de pessoas procurando orientação dos guias espirituais a respeito de doenças, relacionamentos, finanças, e assuntos espirituais.

          Esperando a sessão começar, eu olho para um quadro de Jesus Cristo abençoando um menino ajoelhado a seus pés. Há prateleiras com várias estatuas ao redor da sala: São Jorge matando o dragão, São José segurando o bebê, Jesus, A Virgem Maria, Nossa Senhora Aparecida—a venerada Madonna negra, santa padroeira do Brasil. Velas lançam sombras tremulas e alongadas nas paredes. O doce perfume de incenso enche a atmosfera.

          Através de tilintadas de uma cortina de contas, a médium entra na sala vestida de branco. Ela está acompanhada por três outros médiuns tambem vestidos como medicos. Os mediums sentam ao redor da mesa, e a sessão inicia com orações convidando os guias de luz para se juntar a nós. Gemendo, a médium principal, uma mulher idosa com cabelos azulados, chama seu guia espiritual. Seu corpo convulsa, e a mesa chacoalha, espirrando água da jarra sobre o pano. Os médiuns se revezam lendo o Evangelho Segundo o Espiritismo. Logo depois das leituras, os “pacientes” ficam diante de cada médium para receber suas consultas espirituais e energia de cura através de passes.

Quando recebo meu passe, a médium repete o que minha avó falou por anos. Eu tenho um dom, mas ainda sou muito jovem para desenvolver minha mediunidade e receber meu guia espiritual. Mas não importa quantas vezes vamos para as reuniões, ou como minha mãe segue os rituais prescritos para limpeza da casa e nossos corpos para nos livrar de energias negativas, os ataques somente intensificam a medida que vou crescendo.

Minhas habilidades psíquicas tambem aumentam, me dando uma sensação de poder. Minha intuição é forte e as vezes posso ler o pensamento das pessoas. Revelações de coisas para as quais nenhuma criança deve ter conhecimento é um fardo que não posso compartilhar com ninguem. Como não sou emocionalmente preparada para processar essas coisas, eu me torno em uma criança ultra-sensível e temperamental.

PARTE III

“Sai-te da tua terra, da tua parentela e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei” (Genesis 12:1).

Em 1968, depois de muitos anos aplicando por um visto, nossa familia recebeu permissão de entrada na América. É uma história complicada de como chegamos neste país, especificamente em Massachusetts. Em resumo, a mãe de meu pai nasceu em Taunton, Massachusetts e viveu lá até os seis anos de idade. Ela eventualmente imigrou para o Brasil com seu pai (sua mãe, minha bisavó, voltou para America depois de separar do meu bisavô), mas ela nunca perdeu a cidadania Americana. Dois anos após a morte de seu marido, minha avó voltou ao seu país de nascimento em 1966, reunindo-se com a mãe depois de décadas de separação. Dois anos depois, nós embarcamos em busca do Grande Sonho Americano.

Eu tinha nove anos, minha irmã oito quando imigramos. Nós adaptamos bem com a lingua Inglesa e com a cultura. No entanto, minha mãe não. Esse era o sonho de meu pai, não o dela. Eles concordaram em viver aqui nos Estados Unidos por cinco anos, trabalhar duro, ajuntar dinheiro, e voltar para o Brasil. Lidar com meus ataques espirituais neste país não foi facil. Não havia médiuns ou centros espiritas para procurar ajuda naquela época. Aprendemos logo que nossas crenças não era assunto para discutir abertamente na cultura Americana. Minha mãe fazia o melhor possivel procurando ervas para banho de defeza e incenso no super mercado. E mantinhamos nossa fé um segredo bem guardado.

Paralisia do sono, vendo espiritos, ouvindo barulhos e passos na velha casa que moravamos era ocorrência comum. Do Brasil, minha avó mandava livros espíritas para nosso estudo, e participava na Mesa Branca em nosso nome.

PARTE IV

“Os egípcios ficarão desanimados, e farei que os seus planos resultem em nada. Depois eles consultarão os ídolos e os necromantes, os médiuns e os adivinhos” (Isaías 19:3).

Cinco anos depois, meus pais nos mandaram de volta ao Brasil para viver com meus avós maternos. Eles voltariam assim que economizassem o suficiente para comprar uma casa. Mesmo que minha irmã e eu tivessemos o maior entusiasmo para voltar para nossa terra, a América agora era nossa casa tambem.
Uma noite não muito após nosso regresso, enquanto assistia a novela com meus avós, irmã, e primos, eu tive minha segunda experiência de paralisia estando completamente acordada.

É o momento de destaque do episódio da novela. Pelo canto do olho, eu percebo uma entidade entrar pelo corredor. Todo meu corpo paralisa. Olhando com horror em silencioso, vejo a forma translúcida e azulada de um homem idoso entrar na sala de estar. Mesmo sem ouvir o que ele esta dizendo, percebo que ele esta muito nervoso. Suas características franzidas são surpreendentimente visiveis, mesmo que eu possa ver através dele. Por alguns instantes ele fica parado, agitando os braços, tentando chamar nossa atenção. Com gesto desdenhoso, ele abaixa a cabeça em derrota antes de sair da sala.

Liberada da paralisia, meu grito assustou todos tirando-os dos seus assentos. Quando eu contei através de lagrimas o que aconteceu, eles reclamaram. O momento mais esperado da novela foi interrompido. Minha avó estava brava. Eu podia perceber por sua sobrancelha arqueada. Ela ordenou que eu a seguisse até a cozinha. Para minha surpresa, ela tambem viu a entidade. Sua raiva não era porque eu interrompi a novela, mas como eu reagi em direção a um espirito que precisava de ajuda—o avô dela. Sua reprimenda sobre minha imaturidade espiritual doeu profundamente. Porque ela estava brava comigo por algo que eu não tinha ideia como controlar? Depois de todos esses anos, eu ainda não sabia o que fazer. Ela me aconselhou a estudar os livros de Kardec novamente. E insistiu para que eu fosse as sessões de Mesa Branca para desenvolver minha mediunidade.

Depois de compartilhar essa experiência com duas tias, elas me convidaram para acompanha-las a um centro espirita de Umbanda que elas recentemente tinham entrado. Eu não tinha muito conhecimento sobre Umbanda, e minha tia me explicou.

Umbanda, uma religião que chegou no Brasil através de escravos Africanos, é sincretizada com o Catolicismo. Quando os mestres de escravos obrigavam os escravos a adorar oa santos católicos, os escravos se curvavam no altar, no entanto, quando suas cabeças tocavam o chão, eles adoravam as imagens de seus próprios deuses enterradas sob o altar. Na Umbanda, há um deus supremo. As divindades adoradas são chamadas Orixás. Cada Orixá é representado por uma cor ou um elemento.

Por exemplo: Oxalá (Jesus) é branco. Iemanjá (Virgem Maria) a deusa do mar é azul. Xangô (São João) deus do trovão é vermelho e marron. Ogum (São Jorge) deus da guerra é azul escuro e verde. Existem legiões, falanges, linhas ou hierarquias como: Espiritos de escravos Africanos, crianças, ciganos e marinheiros. No entanto, “a esquerda” ou as forças das trevas devem ser adoradas tambem. Uma vez no mes, Exu (uma entidade demoníaca), é comemorado para garantir que ele continue a ser o guardião do templo de Umbanda chamado terreiro, mantendo as forças das trevas á distância. Pomba gira, é a parte feminina de Exu. (Espiritos Incubus e Sucubus).

Isso me fascinou, e na semana seguinte, participei do meu primeiro serviço na Umbanda. Quando chegamos ao templo, um prédio azul sem pretensões, esperamos lá fora com um grupo de médiuns. Muitas pessoas chegavam caminhando até a porta da frente. Olhei pela porta lateral, a entrada dos médiuns, e notei que as pessoas eram levadas para bancos. Uma cerca baixa, com um pequeno portão separava o terreiro, da área da congregação. Um grande altar chamado congá, pegava a maior parte da parede da frente do terreiro. Estava coberto com renda branca e com muitas estátuas de Orixás, velas, e flores. Dois atabaques de madeira estavam a cada lado do congá.

Quando o Pai de Santo (o médium principal) chegou, minha tia me apresentou a ele. Era um homem baixo, gentil, e como todos os outros médiuns vestia roupas brancas e guias coloridas no pescoço.

          Ele segura a minha mão, e fico intrigada pelo azul de seus olhos. Eu não podia piscar enquanto ele falava comigo. Hipnotizada pelo seu olhar, ouço atentamente suas palavras, “Bem vinda irmã. Voce vem das águas…filha de Iemanjá. Voce esta pronta para desenvolver sua mediunidade.”

          Meu coração acelera. Estou zonza. Algo mudou em minha alma. Existe aqui uma forte presença espiritual, mas é diferente. É lindo. Esperançoso. Calmo. Por fim, aos quatorze anos de idade, a busca do meu propósito na vida é revelada.
Junto-me as pessoas atrás da cerca. Meus pés não pisarão no solo sagrado do terreiro até for convidada a entrar. A fumaça do incenso limpa o espaço de energia negativa.

          Os médiuns entram, formando um semi-circulo ao redor da sala. O Pai de Santo se curva diante do altar batendo a cabeca na base por três vezes. Batendo no peito com o punho fechado, ele saúda os Orixás. Com giz na mão, ele se ajoelha desenhando um circulo com simbolos no chão de cimento. Quando ele termina, uma vela acesa é colocada no centro do pentagrama.

          Batuque de atabaques trovoam no terreiro. Corpos gingam. O ritmo é acompanhado por palmas. Vozes cantam em adoração aos Orixás. O Pai de Santo recebe seu guia Xangô, batendo no peito em saudação. Falando em um idioma que soa Africano, misturado com Portugues, convoca os espíritos. Ombros chacoalham. Corpos convulsam, e contorcem dançando.

          Meu coração parece que vai explodir. A sala está girando. Vibrações de correntes elétrica me fazem tremer incontrolavelmente. Xangô me ordena entrar no terreiro. Alguem me diz para tirar os sapatos. Eu obedeço sem hesitar. No altar, me inclino diante dos Orixás.

          Hiperventilando, fico diante do Pai de Santo para receber o passe de energia. Sinto meu corpo oscilar, e uma médium com os braços estendidos fica atrás de mim. Por um momento perco a conciência, e sou erguida do chão por dois outros médiuns. Uma canção de sereia ressoa ao meu redor em adoração a minha deusa, Iemanjá.

Minha vida é a Umbanda. Umbanda é a minha vida. Minha mediunidade está desenvolvendo bem. É o tempo mais feliz da minha vida, exceto pela terrivel saudades que sinto dos meus pais. Já se passou mais de um ano que deixamos a América, e eles ainda não marcaram data para voltar.

O próximo passo para meu progresso espiritual é ser batizada na cachoeira. Me dizem que as cachoeiras tem tremendas vibrações e energia para limpar impurezas espirituais.

          Na base do véu da cachoeira, fico diante do Pai de Santo. A rocha escorregadia é fria contra a planta dos meus pés. Não tenho medo de cair na piscina borbulhante abaixo. Ele segura minhas mão, invocando meu guia. Agua frígida cai sobre minha cabeça curvada. Como um raio, Iemanjá me possui. Violentamente, minha cabeça joga para frente e para trás. Meu cabelo comprido e molhado chicoteia meu rosto repetidamente. Despertando do meu transe, sinto êxtase total, repleta de alegria e paz.

PARTE V
“E os videntes se envergonharão, e os adivinhadores se confundirão, sim, todos eles cobrirão os seus lábios, porque não haverá resposta de Deus” (Miquéias 3:7).

Alguns meses depois, meus pais voltaram para o Brasil. Este deveria ter sido o momento mais feliz de nossas vidas, mas logo, tudo mudou para o pior. Meus pais brigavam constantemente. Meu pai odiava o Brasil. Minha mãe adorava. Depois de alguns meses após sua chegada, meus pais, colocaram a decisão de ficar no Brasil ou voltar para a America nas mãos minha e da minha irmã. Se nós escolheríamos ficar no Brasil, minha mãe ficaria conosco, mas meu pai voltaria sózinho para a América. Mas se nós decidiamos voltar para a América, voltaríamos todos juntos. Este foi um grande peso para mim aos quinze anos, e para minha irmã de quatorze suportar. Mesmo que minha irmã estava apaixonada por um rapaz que namorava desde que chegamos, ela e eu concordamos que era melhor voltarmos todos juntos para a America. Os nossos corações estavam partidos. Ela pelo namorado. Eu pela Umbanda.

Antes de deixar o Brasil, o Pai de Santo me avisou que nunca deveria receber meu guia, a não ser que houvesse outro médium experiente presente. Eu concordei em manter essa promessa, sabendo ser impossível encontrar médiuns em Massachusetts. (Isso foi em 1975. Agora, médiuns e Centros Espiritas podem ser encontrados em quase toda América).

Depois de voltar para Massachusetts, meus pais compraram uma bela casa em uma colina, com um lago no fundo do quintal. Pela primeira vez em nossas vidas, minha irmã e eu tinhamos um quarto cada uma. Móveis e eletrodomésticos novos. Bons carros. No colégio reencontrei os antigos colegas, e namorei um rapaz por quem me apaixonei antes de voltar para o Brasil. Nós tinhamos muito em comum. Ele tambem imigrou do Brasil na década de 1960, e sua avó que morava em São Paulo, não muito longe da minha familia, tambem era médium.

Por hora, todos estavam satisfeitos. Exceto minha irmã. Ela estava inconformada sem seu namorado. Depois de um ano, ela voltou para morar com meus avós no Brasil. Eu continuei adorando Iemanjá fielmente. Na praia oferecia flores a ela. Velas azuis eram acesas em sua homenagen. No meu quarto, sua estatua e o guia de contas azuis constantemente me faziam lembrar do meu amor pela Umbanda e pelos Orixás. Lógicamente, eu ainda via vultos, continuava tendo paralisia do sono, e experiencias de sonhos psíquicos vívidos. Mas através da Umbanda, eu acreditava que minha vida espiritual estava sob controle.

Quando minha irmã decidiu casar com dezesseis anos, meu pai não aceitou e escreveu para ela esperar. Mesmo porque, não podíamos nos dar ao luxo de fazer outra viagem cara para o Brasil naquele momento. Minha irmã insistiu em seguir com os planos de casamento. Aqui na América, nossas vidas começaram a desmoronar. Meus pais estavam a beira do divórcio. No dia do casamento da minha irmã, minha mãe quase enlouqueceu de tanto desgosto. A atmosfera em nossa casa era de opressão e depressão. Não importava o quanto eu pedia ajuda para Iemanjá, as coisas só pioravam.
Através de sonhos vívidos e sussurros no meu ouvido, criei desconfiança e ciúmes intenso do meu namorado. Como meus pais, nós brigavamos o tempo todo. Não havia paz. Nem alegria. Milagrosamente, nosso relacionamento sobreviveu meus constantes ataques de ciúmes e acusações.

Alguns meses depois, recebemos uma notícia maravilhosa. Minha irmã estava grávida. Os planos de chegar para o nascimento do bebê avançaram. Até meu namorado viajaria conosco. Logo depois da minha formatura do colégio, nós iríamos para o Brasil.
Minha irmã deu a luz a um precioso bebê. Ele viveu apenas quatro dias. Isso foi um tsunami devastador de perca. Inimaginável o sofrimento da minha irmã e cunhado. As palavras dos médiuns dizendo que a vida do bebê foi curta por causa de seu espirito elevado, e que sua missão aqui na terra estava cumprida, não nos trouxe nenhum consolo.

Depois do enterro, eu visitei o terreiro de Umbanda, Durante as evocações, uma moça perto de mim ficou encorporada. Enquanto eu curvava minha cabeça tentando me concentrar para receber Iemanjá, a moça girou em dança golpeando meu rosto violentamente com o dorso da mão. Perdi minha concentração olhei para cima e recebi outro tapa. Sua agressão, uma artimanha mal disfarçada através da dança selvagem. Lágrimas ardiam em meus olhos quando ouvi arfadas de surpresa, e risadinhas vindo da congregação. O Pai de Santo ficou diante de mim chamando Iemanjá por um longo tempo enquanto eu soluçava com raiva e vergonha. Eu sabia que ela tinha feito aquilo de propósito. Era impossível para mim, no meu estado emocional e contaminado, receber Iemanjá. E foi a ultima vez que visitei o terreiro de Umbanda.

Quando visitamos a avó do meu namorado alguns dias depois, seu guia espiritual me disse que eu não podia permitir que meu corpo permanecesse aberto. O espirito explicou que isso era perigoso, já que não frequentava regularmente um templo sob a direção de um médium experiente. Como um magnético, eu estava aberta para que entidades malignas entrassem no meu corpo. Devastada, fiquei relutantemente de acordo. Ela realizou o ritual para fechar o chakra onde espiritos entravam meu corpo. Algum dia, poderia revertir o trabalho, e novamente abrir meu corpo.

Eu jurei nunca mais pisar no Brasil. Desiludida, minha irmã decidiu voltar para a América conosco. Seu marido aguardaria a documentação do visto.
Depois de voltar para a América, minha vida tornou-se em um monte de cinzas de opressão sem esperança. Os fortes pilares da minha fé cairam por terra.

PARTE VI
“Quando alguém se virar para os adivinhadores e encantadores, para se prostituir com eles, eu porei a minha face contra ele, e o extirparei do meio do seu povo” (Levítico 20:6)

A primeira coisa que fiz, foi tirar Iemanjá da prateleira do meu quarto. Em uma caixa eu guardei a estátua junto com o guia de contas azuis. A partir desse momento, os ataques espirituais intensificaram e eu não sabia por onde procurar ajuda.
Depois de alguns meses, meu cunhado chegou na America, apenas um dia antes da grande tempestade de neve de 1978. Em Junho, me casei aos dezenove anos. Nós compramos nossa primeira casa e tinhamos bons trabalhos. Saíamos e nos divertíamos com amigos e familiares. Mas por dentro, eu estava morta. Passava os momentos da vida sem alegria e sem paz.

Quatro anos depois meu filho nasceu. Minha filha quatro anos depois dele. Aparentemente nossas vidas pareciam perfeitas. Minha irmã tambem teve outro menino e uma menina, os dois lindos e saudáveis. Meus pais acertaram seu casamento, e curtiam seus netos. Mas espiritualmente todos nós girávamos em um buraco negro de desespero.
Meus pais, irmã, cunhado, meu marido e eu decidimos que precisavamos de uma mudança de cenário. Talvez mudando para a Flórida e começando uma nova vida em um clima tropical, nossos espiritos se elevariam. O inverno cinzento da Nova Inglaterra parecia cada vez mais longo.

A vida na Flórida foi ótimo no inicio. Todos nós tinhamos lindas casas, piscinas e maravilhosas praias próximas. Mas logo, a contaminação espiritual voltou a nos perseguir. Até mesmo as crianças foram afetadas pelo inferno que nos rodeava noite e dia. As vezes eles viam ou ouviam coisas que os assustavam. Sentindo a presença maléfica principalmente no meu quarto, meus filhos se recusavam a entrar no meu quarto sózinhos. Em muitas ocasiões, os socos na parede sobre nossa cama nos acordava em panico. Uma vez, sons de vidros quebrado como uma pedra atirada na janela fez nós pular da cama. Inspecionamos a casa inteira. Todas janelas estavam intactas, e não achamos nada quebrado, ou fora do lugar.

Eu vivia sempre irritada, amargurada e mal humorada. As pessoas pisavam em ovos tentando não desencadear meus repentes explosivos. Uma vez contrariada qualquer coisa poderia acontecer. Eu era imprudente em meus ataques de raiva, principalmente quando dirigindo. As crianças agarravam firmes em seus assentos temendo por suas vidas. Quando meu sangue fervia, o que eu tinha na mão se transformava em um projétil através da sala. Minha histeria e loucura se transformava em culpa e vergonha quando a tempestade em minha alma acalmava. E por razões que não consigo entender, meu marido teve forças para tolerar meu temperamento violento por anos.

Minha saúde estava abalada a tal ponto que eu só tinha energia suficiente para trabalhar como enfermeira na sala de operações nos meus turnos. Quando chegava em casa, desmaiava no sofá, sem forças para cozinhar, limpar ou cuidar da familia. Houve momentos que eu pensei em acabar com tudo, estimulada por vozes sinistras sussurrando que não havia esperança. Eu me sentia sem forças. Insignificante. O amor por meus filhos era a unica razão que me impedia de saltar para o abismo.

Quando minha irmã me ligou dizendo que tinha conhecido um pastor Brasileiro na Gráfica, minha suspeita aflorou. Ela estava emocionada descrevendo a bela oração que ele fez por ela. Ela me disse que depois que ele orou, ela sentiu uma paz como nunca havia sentido antes. Como um vulcão, palavras de ódio por esse homem que eu nem conhecia foram lançadas da minha boca. Eu a adverti que se afastasse dele. Sem dúvida era um charlatão atrás de dinheiro. Isso não á dissuadiu de me explicar como ele tambem orou com meu sobrinho adolescente. E como o pastor o encorajou para casar com a namorada que ele engravidou. Meu sobrinho estava de acordo com isso, e prometeu largar as drogas. Eu não acreditei nela. Eu mesma o tinha levado a um conselheiro profissional para ajudar com seu vício, sem resultados positivos.

Ela convidou o pastor para um café em sua casa no próximo sabado. Meus pais iriam estar lá tambem. E ela queria que nós participasse da reunião. Eu recusei o convite.
Porem, depois de desligar o telefone, eu reconsiderei. Se esse santo homem pensava que podia entrar na minha familia com seus ensinamentos hipócritas, eu estaria lá para confrontá-lo.

No sabado, cheguei na casa da minha irmã armada e pronta para lutar. Nós entramos e vimos o pastor, meus pais, irmã e cunhado na mesa tomando café e comendo bolo. Vendo o pastor se erguer da cadeira, vindo nos cumprimentar, fiquei congelada com o ódio que sentia por ele. Sem graça, minha irmã levantou da cadeira, “Pastor, essa é minha irmã, pela qual estamos orando”.

“Eu não lembro de ter pedido oração para ninguem.”

Imperturbável, o pastor estendeu a mão. Meu marido apertou a mão dele e foi para a mesa. Mas o pastor não se moveu quando ignorei sua mão. Durante nosso impasse, ele tocou meu ombro dizendo que o Senhor o trouxe para ajudar a mim e a minha familia.
De repente, senti a forte presença do meu guia espiritual, como não sentia há anos. Fui alertada. Esta era uma emboscada do pastor. Ele era astuto e deveria ser derrubado. Era impossivel permanecer próxima dele. Eu dei um passo para o lado, e fui em direção a área da piscina, dizendo ao meu marido para terminar seu bolo para nós irmos embora.

Bati com força a porta de correr de vidro, e sentei perto da piscina. Com as mãos trêmulas, acendi um cigarro. Minha ira pelo homem era insuperável. Segundos depois, a porta de vidro abriu. Eu não podia acreditar que o homem tinha me seguido lá fora com a Biblia na mão.

Abruptamente, levantei da cadeira fazendo ele frear os passos. Meu rosto incendiou quando falei que não estava interessada em conversar sobre religião. Com uma calma absurda, o homem citou escrituras, “Clama a mim e responder-te-ei. Invoca-me no dia da angustia: Eu te livrarei. Ele te libertará e te honrará. Dar-lhe-ei abundância de dias, e te mostrarei a minha salvação”.

Apaguei meu cigarro, e disse que não acreditava em um livro escrito por homens para controlar as pessoas através do medo e da condenação. Alem disso, ele não podia me manipular como fez com minha irmã e o resto da familia, “Eu tenho um guia espiritual que me protege. Eu não preciso de religião”.

Passei por ele, mas ele me seguiu para dentro da sala. “Irmã, não existem guias espirituais”, ele abriu a Biblia, apontando a página com seu dedo indicador dizendo, “esses que voce crê são demônios”.

Eu girei para enfrentar minha familia. Não estavam ouvindo? Não se ofenderam? Fiquei perplexa. Como que ninguem reagia com a arrogância desse estranho criticando nossas crenças? Com paciência minha mãe sugeriu que pelo menos eu ouvisse o que o homem tinha para dizer. E se isso fosse verdade? E se o que acreditamos a vida inteira não era de Deus?

Minha cabeça latejava, e eu a apertei entre minhas mãos. A sala ficou em silêncio exceto pelos sons das páginas da Biblia virando. Como ondas sísmicas, minha raiva aumentou. A ultima coisa que eu queria era dar a ele a satisfação de me ver perdendo o controle. Pegando minha bolsa, eu disse ao meu marido que iamos embora.

“Antes de voce ir irmã, eu te desafio a ler com seus próprios olhos o que a palavra de Deus ensina há milhares de anos: “Não vos virareis para os adivinhadores e encantadores, não os busqueis, contaminando-vos com eles: Eu sou o Senhor vosso Deus”.

Através de dentes cerrados, eu lhe relembrei que a Biblia não significava nada para mim.

Finalmente, meu pai intercedeu e me disse para sentar. Todos esses argumentos não estavam nos levando a lugar nenhum. Ele sugeriu que o pastor perguntasse sobre as minhas crenças, antes de me julgar. Agora, enfim tinha um aliado. Sentei, e aceitei uma xícara de café oferecido por minha irmã.

“Esta justo então,” ele tocou na Biblia, “Bem, voce não acredita no céu ou inferno, correto? Me diz, o que acontece com as pessoas quando morrem?”

Minha resposta foi óbvia: Os espiritos passam por varios estágios de evolução. O que ele chamava de demônios eram apenas espiritos obsessivos em dimensões paralelas aqui na terra. Eles não evoluem porque escolhem assim. Os espiritos de luz são superiores, espiritos evoluidos. Antes de nosso espirito alcançar a luz, serão necessárias muitas reencarnações.

Pegando a Biblia, ele apontou um versículo e me pediu para ler. Mas eu cruzei os braços, recusando o pedido. Sorrindo, ele disse que a reencarnação não existia, “E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo”.

Alguma coisa nessas palavras atingiu meu interesse. E por um milésimo de segundo, eu queria ouvir mais. No entanto, com um abano de mão, eu disse a ele que era inutil tentar discutir o que eu acreditava com ele, se ele continuasse referenciando a Biblia.

Quando chegou a hora dele ir embora, ele ofereceu de orar por nós, pedindo a todos que dessem as mãos formando um círculo. Eu recusei. Mas com um olhar de advertência, meu pai pegou minha mão e meu marido a outra fechando o círculo. Logo que o pastor começou a orar, o que eu pensava ser meu guia espiritual, de repente manisfestou. Gargalhadas saiam da minha boca sem controle. Por mais que eu tentava parar, mais eu ria. Através do meu transe, eu ouvi o pastor gritar, “ Em nome de Jesus Cristo! Saia dela, espirito maligno!”

A entidade tomou controle total. Sentia muita dor, entrava em transe, e voltava a consciência. Não conseguia entender o que estava acontecendo. Como eu podia ser possuída, se meu chakra tinha sido fechado anos atrás? Eu estava prestes a desmaiar. Meu coração disparava. Meu peito doia. O suor cobria meu rosto. Implorei ao pastor que parasse, pensando que era ele que fazia tudo aquilo.
Meu pai veio ao meu socorro e ordenou o pastor que me deixasse. Finalmente o espirito me soltou, e corri para o banheiro e vomitei, porem não o café que tinha bebido a alguns minutos atrás, mas uma substância gelatinosa transparente. Sentindo-me fraca e traída, eu disse a todos, em termos inequívocos, que nunca mais queria ver o pastor.

PARTE VII
“E perguntou-lhe Jesus, dizendo: Qual é o teu nome? E ele disse: Legião; porque tinham entrado nele muitos demônios” (Lucas 8:30).

Depois da experiência na casa da minha irmã, eu comecei a duvidar sobre a identidade do meu guia espiritual. E sobre espiritismo em geral. Porque Iemanjá me atacava se era um espirito de luz—meu guia? Mesmo que não estivesse totalmente convencida, quebrou meu coração ouvir a dor na vóz do meu marido quando ele sugeriu que pelo menos o pastor viesse a nossa casa para orar. Ele descreveu como horrivelmente distorcida e desfigurada eu fiquei enquanto possuída. Meu filho adolecente e meu sobrinho testemunharam parte da minha possessão. Ambos estavam perturbados e imploraram para que eu deixasse o pastor me ajudar. Embora estivesse confusa e conflita, por amor á minha familia, eu finalmente concordei com a sessão de libertação.

O pastor instruiu toda a familia para jejuar, e permanecer em oração no dia da minha libertação, Sabado, 29 de Março de 1997. Ele e sua esposa marcaram para estar em minha casa as cinco horas da tarde. Eu jejuei tambem, e tentei ler a Biblia com capa de couro que ele me deu. Meu marido e filhos sairam para se juntar a meus pais, irmã e familia na casa da minha irmã, permanecendo em oração de intercessão.

Enquanto só, eu tive dúvidas sobre a libertação. O pânico tomou conta de mim. Vozes sussurravam para mim fugir. Para sair antes ele chegasse. Eu peguei a Biblia, mas não pude abrir. Tentei orar, mas minha mente ficou inundada com ameaças alarmantes. Incapaz de suportar a tensão por mais um segundo, peguei a chave do carro e corri para a porta. Quando abri, o pastor e sua esposa já estavam lá.

Orações e leitura das escrituras pelo pastor e sua esposa iniciaram o processo de libertação. Quando o pastor tentou me ungir com oleo, gritando fiquei possessa. Somente algumas coisas me lembro claramente sobre minha libertação. Mas, muitos detalhes me foram dados pelo pastor, e minha irmã que chegou depois que iniciou a libertação.

Enquanto possuída, passamos por toda a casa removendo coisas consagradas para o reino demoníaco que eu servi minha vida inteira. Imagens de minhas mãos passando por gavetas e armários, encontrando a caixa com Iemanjá e o guia de contas, o rosário de cima da cama, roupas, jóias, livros de ocultismo, discos, e videos sendo retirados, são minhas lembranças principais do evento. Lembro tambem, como em um sonho, agachada atrás de minha casa, cavocando a terra com as mãos em busca de uma estátua de São José que estava lá enterrada de ponta cabeça (uma simpatia para vender minha casa).

Minha irmã, porém relatou detalhes horriveis sobre a libertação. Fiquei transformada físicamente, meus olhos tornaram negros de ódio, minha lingua como de uma serpente saindo de uma boca destorçada, cuspindo e blasfemando Deus. Minhas mãos como garras ameaçando o pastor. Quando o pastor colocou um crucifixo na minha testa, o demonio ria de gargalhadas. Mas quando colocou uma cruz vázia, declarando a vitória de Jesus Cristo sobre a morte e Sua ressurreição, e que nossos pecados foram perdoados pelo Sangue derramado por Cristo, o demonio recuou em gritos de desespero. Gritava que estava sendo queimado e implorava por socorro. Momentâniamente, lembro ter aberto os olhos vendo a silueta de uma cruz e ficando cega com uma luz brilhante como o sol, a ponto que cobri minha face com o braço.

Finalmente, quando o pastor gritou, “Eu te ordeno em nome de Jesus Cristo que saia dela”, o jugo de fortaleza de Satanás em minha vida foi quebrado. Como uma bomba explodindo ao meu redor, meu corpo voou para cima, e eu fui jogada uma longa distância no corredor. Quando minhas costas bateram no chão de cerâmica eu abri os olhos. Surpreendentemente, a força do impacto não me feriu. Instantâneamente, um véu escuro levantou dos meus olhos. Eu fiquei sorrindo, admirando tudo ao meu redor.

Agora eu entendia o que significava nascer de novo. Eu era uma nova criatura em Cristo. O velho se fez novo. Nunca antes senti tanta paz. Cristo realmente me libertou.
Fiquei surpresa quando vi minha irmã soluçando perto de mim. Não tinha idéia que ela estava presente durante a libertação. O ar cheirava a enxofre e fumaça. Eu olhei para o relógio. Eram duas horas da manhã. Me parecia ter passado somente duas horas, mas a libertação durou mais de oito horas. Quando meu marido chegou, a primeira coisa que ele notou foi muitos sacos de lixo cheios de coisas para serem queimadas. A segunda coisa foi o cheiro de fumaça na cozinha.

Mesmo que o pastor assegurava que eram resíduos de odor da libertação demoníaca, meu marido não acreditou, e correu para a geladeira, empurrando para fora da parede, certo que tínhamos um curto-circuito

PARTE VIII
“Se com a tua boca confessares que Jesus Cristo é o Senhor e no teu coração creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo (Romanos 10:9).

O dia depois da minha libertação foi Domingo da Ressurreição. Mesmo que dormi apenas por três horas, consegui acordar sem um despertador pela primeira vez em minha vida. Me sentindo renovada, saí correndo de casa para assistir meu primeiro culto de Ressureição durante o nascer do sol em um parque perto de casa.

Cristo ressuscitou, Ele ressuscitou mesmo! Aleluia!

Jesus Cristo usou esse pastor missionário para trazer as Boas Novas da Salvação e libertação do ocultismo para muitos membros da minha familia. Ele ministrou para nossa familia na Flórida, em Massachusetts e no Brasil. Muitos foram salvos, e agora vivem para Cristo Jesus. Meus pais, minha irmã e sua familia, eu e minha familia todos aceitamos Jesus Cristo como Nosso Senhor e Salvador. Todos fomos batizados na piscina na casa da minha irmã.

Logo que convertemos, meus pais mudaram o nome da Gráfica de Pyramid Printing para Hosanna Printing. Depois que a Gráfica passou para mim e minha irmã, mudamos o nome para Redeemer Printing (Gráfica Redentor). Tudo para Sua Honra e Glória.
Agora quando olho para os rostos inocentes dos meus netinhos, eu estremeço só em pensar que eles poderiam ter herdado essas maldições demoníacas. Louvo a Deus por sua misericórdia e promessa de um amplo e infalível amor até mil gerações daqueles que o amam e guardam seus mandamentos.

 

PARTE IX
Que nos salvou, e chamou com uma santa vocação; não segundo as nossas obras, mas segundo o seu próprio propósito e graça que nos foi dada em Cristo Jesus antes dos tempos dos séculos” (Timóteo 1:9).

Depois da minha libertação e salvação, levaram muitos anos para compartilhar abertamente meu envolvimento passado com o ocultismo. Ao pesquisar online por Cristãos que tiveram experiências passadas no espiritismo, encontrei o ministério de Laura Maxwell: Our Spiritual Quest.

O testemunho de Laura é poderoso. Sua maneira humilde e gentil de chegar aqueles que estão enredados em qualquer tipo de prática oculta é inspiradora. Tornei-me ávida seguidora de seu programa de rádio e blog. Nós nos conectamos através das mídias sociais, e seu encorajamento me deu a coragem nescessaria para escrever o meu testemunho. Mesmo levando dois anos para finalmente completar. Suas entrevistas com Mark Hunnemann, e muitos outros convidados que alertam sobre o perigo, e engano do ocultismo e espiritismo, são edificantes.

Eu li o livro brilhante de Mark Hunnemann, Seeing Ghosts Through God’s Eye (Vendo Fantasmas pelos Olhos de Deus), e logo nos conectamos nas redes sociais tambem. Laura e Mark tem sido uma tremenda benção em minha vida, e eu agradeço a Deus por eles.

Eu oro para quem ler meu testemunho e ainda não for salvo, para convidar Jesus Cristo em seu coração. Se voce esta, ou esteve envolvido em qualquer forma de ocultismo, incluindo horóscopo, tabuleiro Ouija, cartomante, ou envolvimento em praticas de Nova Era, espiritismo, yoga, etc., por favor peça a Jesus Cristo de Nazaré que te liberte de tudo isso. Procure uma igreja que tenha estudo Bíblico, e peça a Deus direção em todas áreas em sua vida.

Embora meu testemunho não seja único, ilustra práticas ocultas em detalhes que muitos talvez não estão familiarizados. Infelizmente, o reino do ocultismo está se espalhando a medidas alarmantes, infiltrando-se em todas as áreas, inclusive escolas, areas de saúde, e mesmo em igrejas. O fato de muitos pastores ignorarem esse tópico, e fechar os olhos para esse holocausto espiritual é angustiante.

Muitos perguntam, como é possivel curar doentes ou ajudar pessoas necessitadas ser de Satanás? A palavra de Deus nos ensina através de muitos versículos sobre os enganos do inimigo: “E não é maravilha, porque o próprio Satanás se transfigura em anjo de luz” (2 Corintios 11:14); “O Perverso chegará com o poder de Satanás e fará todo tipo de falsos milagres e maravilhas. E enganará com todo tipo de maldade os que vão ser destruidos” (2 Thessalonicenses 2:9-10).

Para aqueles que acreditam ter visto, ou contactado o espirito de um amado que partiu, este é tambem um esquema do diabo. Espiritos familiar são demônios que se mostram em forma humana somente para enganar. Demônios estão aqui na terra desde o inicio dos tempos. Eles sabem detalhes íntimos sobre nossas vidas: Nascimentos, mortes, casamentos, infidelidades, relacionamentos, traições e mesmo a básica informação do dia a dia sobre nós e nossos amados, vivos ou mortos.

Em 1 João 4:1-6, somos ensinados como examinar/ provar os espiritos para ter certeza que são de Deus. Durante a manifestação de uma entidade, verifique se reconhecem a divindade de Jesus Cristo, Nosso Salvador enviado por Deus, que veio ao mundo como ser humano (encarnação), e Sua ressurreição. Se o espírito negar a divina humanidade de Jesus Cristo, não provém de Deus. Clame o Nome de Jesus de Nazaré durante a manifestação, e o espirito familiar mostrará sua verdadeira identidade demoniaca, e fugirá.

O objetivo de Satanás é usar sua astúcia e trapaça para afastar os seres humanos das verdades de Deus e da salvação eterna. Mas quando confiamos em Jesus Cristo e entregamos nossas vidas a Ele, nossos olhos estão abertos a Sua verdade, “Porque a graça de Deus se há manifestado, trazendo salvação a todos os homens, ensinando-nos que, renunciando a impiedade e as concupiscências mundanas, vivamos neste presente século sóbria e justa e piamente. Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Senhor Jesus Cristo” (Tito 2:11-13).

 

RECURSOS ÚTEIS

 

  •  Laura Maxwell: www.ourspiritualquest.com
  • Seeing Ghosts through God’s Eyes: A Worldview Analysis of Earthbound Spirits,          by Mark Hunnemann
  •  Chris Lawson: www.spiritual-research-network.com
  •  Johanna Michaelsen: www.michaelsenministries.com
  • A Beautiful Side of Evil, by Johanna Michaelson
  •  Steven Bancarz: www.reasonsforjesus.com
  •  Dana Thompson: www.xposingtheenemy.com
  •  Marcia Montenegro: www.christiananswersforthenewage.org
  • The Kingdom of the Occult, by Walter Martin
  • Guerra Contra o Ocultismo, Feitiçaria, e Falsa Religião, por Gabriel Agbo
  •  Ministério Apologético: www.cacp.org.br/